...somos nós que criamos
nossas próprias prisões.
Você faz uma prece ao levantar ou ao se deitar? Já fez uma prece a si mesmo?
Olha só:
Que eu me permita olhar, escutar e sonhar mais.
Falar menos.
Chorar menos.
Ver nos olhos de quem me vê a admiração que eles me têm e não a inveja que penso que têm.
Permitir sempre escutar aquilo que eu não tenho me permitido escutar.
Saber realizar os sonhos que nascem em mim e por mim e comigo morrem por eu não os conhecer.
(...)
Que eu possa amar e ser amado.
Que eu possa amar mesmo sem ser amado, fazer gentilezas quando recebo carinhos; fazer carinhos mesmo quando não recebo gentilezas.
E... que eu jamais fique só, mesmo quando eu me queira só.
Texto de Oswaldo Antônio Begiato
(Trecho do filme "O Grande Ditador", de Charlie Chaplin)
Foto: Eu de Chaplin acompanhada do meu aluno Pedro Dalsasso
na entrega de certificados da Skill - dez.2006.
É engraçado como simples cenas do cotidiano podem se tornar tão significativas em questão de segundos... Basta ficar em silêncio, numa atitude contemplativa, que passamos a perceber um mundo imperceptível para os nossos barulhos cotidianos.
Foi num desses momentos, indo para casa após um dia exaustivo - desses que nos tiram o fôlego – sabe, quando dezembro chega e a gente não vê a hora de descansar?! Pois é, as aulas já estavam acabando, e as reflexões apenas começando... Naquele dia, não fui à universidade, uma chuva intensa caía e queria me dizer alguma coisa, o entardecer foi dando lugar para uma noite nebulosa e no trajeto meus pensamentos estavam aflorados!
Comecei a refletir sobre o novo ano e os velhos problemas diários, pois o ano no calendário trocaria seus números finais em questão de vinte e tantos dias, mas os problemas... Ah! Esses continuariam comigo, e já no primeiro dia de janeiro – não, não, talvez no segundo! – estariam lá, me esperando para serem resolvidos. Mesmo depois dos fogos de artifício, da ceia alegre com a família, dos abraços trocados, dos telefonemas dados e recebidos, do beijo apaixonado do namorado, mesmo com toda essa felicidade da renovação, os problemas continuariam lá... ‘Que chatos!’ – pensei, e distraída pisei numa poça d’água, molhei a roupa e fui tomada pela raiva...
Porém, antes de mencionar palavras duras (normais a qualquer mortal em momentos de irritação!), fui surpreendida pelos risos alegres de algumas crianças... eram três meninas brincando nas poças d’água da calçada, elas pulavam felizes, molhavam seus pezinhos que estavam sem as delicadas sandálias, deixadas de lado sem o menor apego. Elas eram livres, seus risos inundavam meus ouvidos e sacudiam minha alma! A chuva estava forte e eu contemplava aquele instante tão especial totalmente fascinada. ‘Sem sandálias, elas vão ficar gripadas’ – pensei num primeiro momento, mas depois... ‘Sem sandálias, elas estão felizes, sem medo de viver, simplesmente vivendo!’.
Mas, o que isso estava querendo me dizer?!
Talvez que é preciso tirar as “sandálias”!
Isso mesmo! Sem sandálias, sem medos de enfrentar as complicações diárias – que, cá entre nós, todo mundo tem as suas!! – sem sandálias e sem neuras, sem besteiras, sem bobeira! Até nos dias chuvosos, nebulosos, preparados para a tempestade, eu e você, caro leitor, podemos ficar com os pés e a alma livres para viver tudo de bom e melhor que vier, resolvendo problemas, sendo dono da cena, mesmo sem sandálias, mas com mais paz no coração!
Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana,
que gerou em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz.
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos, por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade.
Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante
e paga pouco, mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe
é impaciente conosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós, impedindo assim
que mil aventuras nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional.
...Drummond revela grandes verdades em tão poucas linhas. Adoro esse poema, por isso te convido para que o leia e reflita sobre essas sábias palavras de Carlos Drummond.